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... a minha amiguita Helena Sofia, na altura com uns 4-5 anitos, é que lhe chamava assim.
Era a sala onde eu dava explicações de Matemática a meninos e meninas, alguns já crescidotes. Ficava situada na Rua Pinheiro de Ázere na ditosa Mãe-terra de Santa Comba Dão em loja por baixo da antiga Rádio Total FM em edifício da propriedade de Ludgero Matos que, diga-se em abono da verdade, jamais me cobrou um tostão pelo aluguer e ainda me franqueava a energia eléctrica. Pelos adereços que vejo na foto noto que estaríamos no Natal, talvez de 2000 ou 2001, dado que o meu rosto está em fase imberbe e sei que no ano da travessia, 2002, já tinha a barba crescida, e ao ver-me entre os painéis de fórmulas matemáticas rodeando o emblema da Briosa não posso deixar de recordar o enorme gozo que me deram a construir [com a ajuda do Paulo Marques, o homem da estrutura física].
De maneira alguma vou falar de saudades, mas sinto um aperto no peito e um grande nó na garganta quando recordo os momentos passados na Escolinha. Que não era minha e sim de todos nós que a frequentávamos e onde se comentava de tudo um pouco, mas trabalhava-se. Bastante. Nunca fui profissional, mas não me lembro de que algum dos jovens tivesse falhado. Uns absorviam melhor do que outros, é facto. Passaram por lá verdadeiros craques dos números que me deixavam orgulhoso e onde o meu papel era simplesmente de acompanhamento e ensinar-lhes alguns truques que facilitam a aprendizagem, mas outros houve que quase do zero [e inexplicavelmente descrentes] atingiram valores bem acima do que eu próprio esperava. Era com estes que eu me sentia realizado, apesar de que o mérito era inevitavelmente deles. Eram mentes que não estavam abertas, simplesmente. "Não há ninguém burro" atirava-lhes eu quando desanimavam.
Não tenho cabeça para os nomear a todos e se o tentasse fazer iria cometer, inevitavelmente, injustiças para com os "esquecidos", mas cada vez que me vem à memória a Escolinha a recordação da pequena Joana, minha explicanda durante 3 anos [e também da Mariana, durante um curto período] deixam-me amargurado e triste e lamento que elas não possam ler o enorme abraço [maior que o Atlântico] que hoje quero enviar a todos eles, meninos e meninas de então, homens e mulheres na actualidade.
... a memória lembra-me que o Zé Neves dizia que quando casou com a mãe Rosa já o velho limoeiro existia. Teria sido plantado por meu avô Elísio Alves Ferreira, "Luta", irmão de Abel e David e outros que eu não recordo. Sendo assim, e levando em atenção que o pai de minha mãe faleceu em 1936, o último dos resistentes da casa fundada por Elísio e Margarida no Outeirinho, terá agora à volta de 80 anos. Talvez mais, quem sabe.
Passou das boas o amigo que hoje aqui homenageio. Lembro-me que esteve quase condenado ao serrote quando, vá lá saber-se porquê, entrou em crise produtiva e durante anos não pariu um limão que justificasse a água que mamava e o "sulfato" que se gastava na "cura". Livrou-se da decapitação, mas não de umas valentes vassouradas receitadas por curandeiro anónimo que passou lá pela rua. Fosse da porrada ou do medo de ir parar à cozinha dos porcos para aquecer as panelas, o velho limoeiro resolveu-se e de um momento para o outro tornou-se parideiro, brotando limões por tudo quanto era flor. A fartura era tanta que até se puseram limões à venda.
Devido à velhice ou, quem sabe, desanimado por ver partir os que o acarinhavam, o velhote resolveu entrar novamente em recessão. Fechou-se em copas e nada de limões. Tudo o que nasce, está condenado a morrer, diz o povo e a sentença foi decretada. Desta vez não se livrou do serrote. Não sei onde foram parar os seus ramos, é irrelevante agora, certamente ao fogão da sala porque as panelas da cozinha dos porcos há muito que tinham deixado de ter utilidade.
Parecia que a história tinha acabado, mas o velho limoeiro estava apenas adormecido. As suas raízes intactas retemperam as forças e vai daí numa Primavera qualquer resolveu-se a dar de si. Ramo ante ramo, folha ante folha, num instante cresceu e iniciou novo ciclo reprodutivo. Este ano deu poucos, disse-me o "mais velho", mas para quem já esteve para lá do além está mais do que bem. A foto é testemunha. Verdadeiro garanhão este meu amigo limoeiro. Que continue a sua acção e que as novas gerações o respeitam tanto quanto eu o desejo.
Post-scriptum - a foto é actual [Fevereiro de 2013] e foi-me oferecida pelo amigo Manuel Evangelista.
Este Salazar nada tem a ver com o "teu amigo".
O que andas a ler... "obrigas-me" a revisitar o pa...
Adorei a parte final da recomendação, O limão foi ...
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