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... o avião começa a rolar pela pista... de início rola suave e lentamente... [vídeo de um A-340 TAP a levantar voo]
O silêncio reina no interior do Venceslau de Moraes.
Com as persianas cerradas e em meia-luz, os seus ocupantes dormitam. Nem tanto por necessidade antes mais como forma de matar o tempo. Já se andou bastante, mas outro tanto ainda falta percorrer e o ponteiro dos minutos terá ainda de passar mais cinco vezes pelo mesmo ponto como me é indicado no ecrã de televisão instalado por cima de mim a pouco mais de um metro de distância. Cinco horas mais.
Antes também eu cochilava, mas fui despertado por ligeira sacudidela da moderna passarola e como sou virgem nestas andanças, tive que fazer um esforço para tomar consciência de que realmente navegava pelos céus. Recordo então que sigo comodamente recostado em assento junto à asa esquerda de um Airbus A-340 da TAP Air Portugal e que corta os ares a uma velocidade de ordem dos oitocentos e tal quilómetros horários.
Refira-se que o Airbus A-340 é um avião moderno e confortável, possuidor de uma grande autonomia (raio de acção de 13 mil quilómetros) o que lhe permite voos de longo curso sem escala. Com capacidade para 274 passageiros, transporta mais de 130 mil litros de combustível nos seus tanques e voa em cruzeiro entre os 10 e os 12 mil metros de altitude onde enfrenta temperaturas da ordem dos 50 graus centígrados abaixo de zero.
E o destino deste voo, o TP-1575, é a cidade tropical de S. Paulo.
S. Paulo: enorme metrópole fundada em 1554 (25 de Janeiro) pelo Padre Manuel da Nóbrega da Companhia dos Jesuítas é também a capital do estado com o mesmo nome situado no sudeste dessa imensidão territorial chamada Brasil onde Cabral aportou há pouco mais de 500 anos. Ao pensar no facto de que só o município paulistano possui uma população igual ao somatório dos residentes no meu país, percebo melhor a grandeza dos feitos daqueles que através de obras valerosas sempre disfarçaram, ao longo dos séculos, a "pequenez" de Portugal.
Mas a aventura tinha-se iniciado muito antes, pouco tempo depois de as trombetas dos Anjos terem cessado a sua actuação nas Festas da Cidade de Santa Comba.
O amigo, tantas vezes confidente e conselheiro que me haveria de transportar à capital do país, compareceu pontualmente à hora pré-estabelecida.
O (outro) fiel amigo, meu companheiro de outras viagens, observava atentamente a cena de emalar dos volumes e eu interrogava-me se o irracionalismo dele lhe permitia compreender a situação. Sem lágrimas, ao afago de despedida correspondeu ele com um frenético abanar de cauda.
Embalada a trouxa era hora de zarpar. Embora não pactuando com crendices, respeitei a superstição que Henrique Gonçalves fala em livro de sua autoria e existente na Biblioteca Municipal da cidade. Em Nas Terras de Grão Pará, aquele notável santacombadense que foi chefe da Secretaria da Câmara Municipal, descreve as suas vivências de jovem ainda imberbe por terras do norte brasileiro, no Estado do Pará, no princípio do século vinte. Relata Henrique Gonçalves que aquando da partida e ao descer pela Via Cova afora fez questão de não olhar para trás, pois era suposto que quem o fizesse quando ia de viagem longa... jamais regressaria.
As radiografias às garrafas de Dão que me acompanhavam não revelaram alfandeguite alguma e enquanto o autocarro cirandava pelas pistas do aeroporto eu interrogava-me sobre qual das aeronaves me sairia em sorte. Passei pela Fernão Mendes Pinto, pela D. Francisco de Almeida, mas foi a Venceslau de Moraes a contemplada.
Desconhecido da grande maioria dos portugueses, Wenceslau José de Sousa Moraes nasceu em Lisboa em 1854. Oficial da Marinha, foi o primeiro cônsul de Portugal no Japão, na cidade de Kobe. Descontente com a política comercial portuguesa no oriente em que os produtos portugueses eram comercializados através dos ingleses -tempos do Ultimatum Inglês de 1890- demitiu-se de todos os seus cargos, renunciou à pensão de reforma e exilou-se na pequena cidade japonesa de Tukushima. A sua obra versa, principalmente, narrativas autobiográficas e de viagens por países não ocidentais. Foi um autêntico cronista do Oriente, em português. Como jornalista, foi colaborador do jornal Correio da Manhã da altura. Suicidou-se em 1929.
Quando me sentei no banco 20-B junto ao corredor, já depois de ter arrumado a bagagem de mão, tive dificuldade em definir o meu estado de espírito. Contrariamente ao que seria de esperar sentia-me calmo. Demasiado calmo, talvez. Nem "o levantar voo" nem "o aterrar" me assustavam, mesmo tendo em conta que esta viagem aérea iria ser o meu baptismo. Na verdade, o "problema" maior ainda seria aguentar dez horas sem fumigar os pulmões.
Enquanto esperava pela partida coloquei os fones nos auriculares e fui viajando pelos vários canais de som que me eram oferecidos. As quadrículas em branco das palavras que se cruzam iam sendo preenchidas tendo por fundo a música de Madredeus ou de Mozart, mas também vozes de clássicos em inglês ou francês de autores cuja identificação a memória deixou escapar. Era uma forma de matar o tempo, pois a partida tardava... demasiado.
As 10 horas da manhã já lá iam há muito e começava a notar-se uma certa impaciência entre os passageiros. As comissárias de bordo iam tentando amenizar o ambiente, ora pela sua graciosa presença ora através de pedidos de desculpas e lá iam prestando esclarecimentos que eu considerava autêntica treta de entretimento. Finalmente uma hora e onze minutos após a hora prevista, o Wenceslau de Moraes foi rebocado e tomou posição.
-Senhores passageiros é favor colocar os cintos de segurança, informou voz melódica feminina.
E recordo aqueles momentos excitantes que gravei passo a passo.
O avião começa a rolar pela pista e de início rola suave e lentamente, tendo em conta a potência de que dispõe.
Exactamente um minuto depois, acelera.
A loira do 20-A, companheira das próximas dez horas, benze-se e fecha os olhos, mas penso que não deve ser com intenção de dormir. A maioria dos passageiros recosta-se de olhos cerrados. O silêncio na cabina é arrepiante. Só se ouvem os roncos da potente máquina. Observo e anoto tudo o que me é possível, não sabendo se por curiosidade se para combater o que esporadicamente sinto e que classifico de arrepios. Coincidindo com expressão imperceptível de uma criança, o avião dá um solavanco e eleva-se... entra-se no segundo minuto.
No canal áudio escolhido, Carlos do Carmo canta Lisboa Menina e Moça. Sintomático.
De focinho ao alto, o avião já trespassa as nuvens e reparo em duas lágrimas roliças de uma vovó de sotaque brasileiro com a neta ao colo. A loira sorri.
O Wenceslau de Moraes voa...
E sensivelmente dez minutos depois de se fazer à pista, o avião está a 10 mil metros de altitude em posição horizontal e à velocidade de cruzeiro.
A vida volta à cabina e agora todos desejam que as horas voem. O monitor de TV dá a conhecer coordenadas de voo e a chegada fica agendada para as 17 horas e 29 minutos de S. Paulo, menos 4 horas do que na cidade de origem, Lisboa.
Pouco depois, a simpática tripulação serve água, sumo ou vermute como aperitivo e em seguida o almoço. Fecham-se as persianas e diminui-se a intensidade da luz artificial. A nave fica na penumbra e a maioria dos passageiros começa a dormitar. Eu não estou (ainda) disposto a tal. Acendo a pequena lâmpada individual e folheio uma revista anteriormente distribuída pela elegante comissária de bordo de tez trigueira. Tomo conhecimento que a rota é um autêntico segmento de recta de quase 8 mil quilómetros entre Lisboa e S. Paulo.
O monitor de TV indica que o jacto sobrevoa agora Cabo Verde. Levanto ligeiramente a persiana e apercebo-me que para tristeza dos residentes neste arquipélago as nuvens estão mais uma vez ausentes, mas propicia-me uma deliciosa observação das pequenas ilhas.
A noite tinha sido em branco. Recostei o assento e "passei p'las brasas".
Horas mais tarde, graças à sacudidela que falei no início da crónica, despertei.
O ecrã televisivo informa agora que tínhamos acabado de cruzar o Equador, o círculo máximo imaginado pelo homem e que divide o globo terrestre em dois hemisférios: norte e sul. Também chamado de Paralelo Zero ao Equador corresponde, por convenção universal, a latitude de zero graus.
Em posterior navegação pela internet, averiguaria que a linha do meio-campo no rectângulo de jogo do Estádio Zerão, em Macapá (capital de Amapá, o estado brasileiro mais a norte) fica exactamente em cima (ou em baixo se preferirem) da Linha do Equador. Ou seja, um lado do campo fica no Hemisfério Norte (a que Portugal pertence) e o outro no Hemisfério Sul (onde agora me encontro). Participar em encontro de futebol neste estádio fará inveja, certamente, a qualquer coleccionador de eventos.
linha do Equador coincide com a linha do meio-campo do Estádio Zerão, Macapá -Estado de Amapá,AP
As horas demoram a dobrar e nem a projecção de filmes (de fraca qualidade, diga-se) quebra a monotonia da viagem. A ansiedade da chegada toma conta dos passageiros. As passeatas pelos corredores são uma constante ora como forma de relaxamento ora de ida (e de vinda) ao quarto de banho ou banheiro se considerado em perspectiva brasileira. Já para mim e para a minha vizinha de ocasião, uma brasileira "médica dentista" nos Açores, a angústia da viagem continua a ser suavizada por troca de impressões de vez em quando.
De permeio, o serviço TAP ainda ofereceu bolachinhas ao lanche e o jantar foi constituído à base de ?detestável? massa alimentícia em formato de lacinhos cerimoniais. Esqueci-me de que não apreciava e até saboreei, pois o estômago há muito que reclamava.
-Senhores passageiros dentro de momentos desceremos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, S. Paulo. Neste momento a temperatura exterior é de 25 graus. É favor colocar os cintos de segurança... avisa a mesma voz melódica da partida, mas em tom francamente mais agradável.
A aterragem não tarda. Somos informados que trespassamos o Trópico de Capricórnio, o paralelo terrestre de grau 23,5 e que atravessa a cidade de S. Paulo. Espio pela pequena janela e o primeiro contacto com a enorme urbe é a visão "cá em baixo" de monumentais amontoados de centenas, certamente milhares, de casas em tons de barro e que mais tarde constatei tratar-se das célebres favelas onde a condição digna de vida humana prima pela ausência e a violência e o crime são uma constante. A aeronave perde altitude rapidamente e o organismo acusa o efeito sentindo um baque. O silêncio na cabina volta a ser sepulcral. Os rodados do trem de aterragem tocam o solo e, relinchando, os motores efectuam a inversão.
Os tradicionais aplausos de chegada a bom porto fazem-se ouvir.
Já é noite quando após uma hora de cumprimento das formalidades habituais recebo uma rosa vermelha de boas vindas.
Ansioso, dirijo-me ao orelhão mais próximo:
-Filha... cheguei!
Triplo Orelhão
Homem emáquina
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Malditagripe
constipação ou lá o queseja... eum homem, debilitado e todo partido, maldiz mesmo da sua sorte.
Mas, até se resigna, pois seja aqui ou ali,a norte ou a sul do Equador é costume da maleita marcar sempre a sua presençazinha anual emais não resta que aguentá-la e tentar mandá-la embora o mais cedopossível.
Convenhamos que, por outro lado, um tipo até chega ao despudor de aconsiderar, à maleita, bem vinda. É que os carinhos em nós são redobrados, perguntam-nos logo pela manhã se estamos melhorzinhos,se desejamos isto ou aquilo e até temos tempo (e pachorra) para fazer o que nem é costume. Uma delas é encharcarmo-nos em televisão. De comando na mão, bem abafadose espichados no sofá lá vamos percorrendo os canais televisivos à procura dealgo que nos agrade. O que nem sempre acontece. Há alturas que se tem mesmo de dar razão aos quepregam que quanto maior é a oferta pior é a qualidade... é o filme em reprise que já visionámos enevezes, é (de novo) o jogo do dia anterior com a agravante de que não nos toca nem deperto, são as novelas... enfim, é o talk show que discutetudo menos temas com interesse cultural ou social, antes sim escalpelizando e roendo comoautêntico ratinho a triste vida de cada um. Com a ausência daRTPinternacional no "pacote" que me é servido pela operadora decomunicações que serve a zona onde resido, outro remédio não tenho que comer o que aparece. Come-se detudo, pois então... e não manda o povoque para curar a gripe também nos devemos abifar?
Bem, não sejamosmaldizentes baratos, pois também há momentos bons. Principalmente aquelesoferecidos pelos canais (brasileiros e internacionais) que se dedicamexclusivamente ao conhecimento. Ah e quanto aos telejornais... há detudo como em todo o mundo com algumas estações televisivas a abusar na exploração do crime,fazendo derramar aindamais sangue do que o derramado no acto. E tudo isto porque a preocupação única éter ibope, expressãoque junta as iniciais de instituto de opinião pública e estatística e que poraqui virou vocábulopara definir índice de audiência.
E com este papo sobre TVs e maleitas parece que estáexplicada a razão de ter deixado o Voz do Seven um pouco aoabandono. É que, meus senhores e minhas senhoras, nestas alturas de fraquezanem vontade dá para nos sentarmos numa cadeira e com aquele peso que se carrega acima dos olhos, aúltima das coisas que nos poderá apetecer será olhar para um brilhante ecrã decomputador a dois palmos da testa. Justifico-me, porquequem me lê merece-o e por outro lado salvo a pele perante o meu amigo Castrinex,ex-feroz crítico dos meus escritos. Saliento o ex, pois agora está defel extirpado e o veneno foi-se. Deve estar mansinho que nem cordeiro, afinalcordeiro que nunca deixou de ser.
Voltando à minha gripe ou lá o quetenha sido.
Graças a ela pude, assim, acompanhar passo a passo e durante as 4 horas deemissão diária que a TV 5 francesa ofertava, a epopeia do "nosso"José Azevedo no Tour de France. O ciclista português passeou toda a sua classepelas estradas gaulesas e fez-nos recordar o saudoso campeão JoaquimAgostinho. Para além de ter cumprido o objectivo a que se propunha, contribuir para a histórica sextavitória do americano Lance Armstrong, Azevedo conseguiu a honrosa quintaposição na Classificação Geral da mais consagrada das provas do ciclismomundial em estrada. Merece assim destaque no Voz doSeven logo que a boa disposição impere no reino da imaginação.
Outranotícia que irá merecer destaque, não só pelo... destaque que teve naimprensa brasileira falada e escrita, será a consagração do"nosso" Eusébio na hollyodesca Calçada da Fama do Estádio doMaracanã no Rio de Janeiro.
Já em fecho de emissão registe-se a presença deum actor português numa novela da TV Globo que passa no chamado horário nobre.Não sei se já se passeia por terras lusas, mas em Senhora do Destino, o actorNuno Melo interpreta Constantino, o último dos emigrantes portugueses para oBrasil, como se auto-intitula. Partiu em busca de herança de um tio, mas pareceque de vigarice em vigarice nada lhe restou. Tem (agora) a profissão de taxista e devez em quando faz uns bicos, os nossos biscates, para amealhar (mais) unscobres. Como não poderia deixar de ser, só e emterra estranha, apaixonou-se perigosamente por Rita, uma mulher gostosona de tez bem morena,que possui dois pecados: o alcoolismo e o companheiro que, emboraencarcerado na prisão da cidade, a domina por completo.
Parece trama interessante, mas com as devidas desculpasjá vou adiantando que não serei eu que vosrelatarei o final.
Até mais!
Este Salazar nada tem a ver com o "teu amigo".
O que andas a ler... "obrigas-me" a revisitar o pa...
Adorei a parte final da recomendação, O limão foi ...
MOMENTOS SÃO PAULO
Perdida em casa
A gata do Canindé
A [barata] tonta da Paulista
Tanto Mar
Big desilusão
Estação da Luz
Paz no Mundo
Bar do Quim
LUSA, subida 2011
Papai Noel
Os pecados [confessáveis] de uma menina bem
A Marquesa de Sernancelhe
Dia do Sim
En-laço
MOMENTOS SÃO PAULO