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Já vos dei a entender que sinto uma certa amargura por não ter podido usufruir dos carinhos de uma avó. Se a paterna faleceu ainda nem meu pai pensaria em rumar ao Outeirinho para conquistar de amores a Rosita minha mãe, a outra, mãe de minha mãe, faleceu quando eu tinha apenas 5 anos de idade apesar de que desta minha avó ainda guardo memórias, e até recentemente vos contei, mas elas são muito vagas e construídas por imagens tão obscuras quanto as vestes que ela sempre usava devido à sua condição de viúva.
Claro que ela me teria dado amor e acredito piamente que a minha avó Margarida me dispensou todo o carinho do mundo enquanto a lei da vida lhe permitiu, só que, repito, fico com uma certa mágoa por os meus lábios não poderem recordar o sabor das rugas que certamente embelezariam o seu rosto escondido no lenço negro que lhe abafava os cabelos e a alegria por ter ficado órfã de marido tão cedo. Como podem ver caros amigos e amigas, a minha visão infantil de avó será a de uma velhinha vestida de preto, de face enrugada cuja missão neste mundo seria a de acarinhar os netos, bem diferente da de uma menina de agora (moderna, digamos) que em composição escolar, provavelmente, publicada em jornal do Cartaxo, dizem, considera que
Avó é...
"Avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros.As Avós não têm nada para fazer, é só estarem ali.Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas nem as lagartas.Nunca dizem "despacha-te". Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos.
Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior.
As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes.Quando nos contam histórias, nunca saltam bocados e nunca se importam decontar a mesma história várias vezes.As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo.Não são tão fracas como dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós.
Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, sobretudo se não tiverTelevisão".
Delicioso. Soberbo. Impossível ficar impassível. Acreditai que quando recebi o texto até parece que o espaço à minha volta se iluminou. Eu nem sabia se ria da franqueza das palavras da miúda ou de imaginar os rostos amedrontados das novas avós dos nossos tempos (as já de facto e mesmo aquelas que o podem ser de um momento para o outro) por os netinhos as poderem caracterizar assim mais ou menos.
Obrigado por ter partilhado o seu sofrimento. Tamb...
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Extraordinária narrativa. Nostálgica também! Abraç...
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