Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
(recordando também os sons e as incertezas daquilo que depois soube ser um tremor de terra)
Quando chegou o primeiro dia de Março do ano de 1969 fui contemplado com o título de tio pela primeira vez. Tio de um varão. Em tempos de exames ecográficos primitivos para determinação do sexo do bebé (se sobre a barriga da grávida a agulha girasse era menina, se se movimentasse tipo pêndulo era menino... ou talvez o contrário já nem sei bem) a certeza só veio quando no antigo Hospital da santa terrinha de Santa Comba Dão o pilas do meu sobrinho apareceu saído do ventre da mãe (minha cunhada, mulher do meu irmão mais velho). Tinha eu 13 anos, a idade ideal para não me preocupar em memorizar se a minha aposta tinha dado certo (naqueles tempos cada um mandava o seu palpite) ou se a treta do jogo da agulha tinha sido infalível. Mas o que eu memorizei muito bem foram os acontecimentos de véspera, da noite de 28 de Fevereiro. E com os tremeliques quase que me esqueci do meu sobrinho, deste a quem dedico a crónica, afinal o mais velho deles que completa hoje 40 anos de idade, que até já me ofereceu um sobrinho-neto e que trocou o Dão pelo Douro das belas encostas que são marcas indeléveis na memória de quem já passou por lá, indo viver, curiosamente, para o município que viu nascer a brasileiríssimaCarmen Miranda há precisamente 100 anos.
Por esta altura lá por casa do Zé Neves e da Rosita do Outeirinho, outrora cheia de gajos (quatro, fora o pai) à procura das calças que iam vestir, só restava o mais novo, eu: os dois mais velhos já tinham casado e saído de casa e o terceiro andava por lá por Angola, pelos Cus de Judas, a servir os interesses de um regime colonialista e decrépito que pela força das armas tentava calar a voz de um povo que bradava por liberdade. Lembro-me bem que a cama onde dormia em colchão de folhelho era de ferro pintado a branco com umas barras douradas e que em cada um dos quatro cantos havia uma maçaneta também dourada que não era fixa. Atentai que estes pormenores são deveras importantes (nem tanto pelas dores de cabeça e de dedos que os "dourados" davam a minha mãe quando se tratava de os arear com "solarine"), porque ainda tenho em memória o barulho das ditas maçanetas nessa noite de 28 de Fevereiro de 1969 a girarem como cabeça desarticulada em um só côndilo. Mas antes e durante um dois três quatro cinco seis sete segundos ouvi um barulho que por não saber descrever direi apenas que era do tipo de um barulho vindo do além ou se quiserem do outro mundo, talvez uma brisa arfante um pouco parecida com aquele som que anda de braço dado com os fantasmas nos filmes de ficção. Uma certeza tenho, era barulho vindo das entranhas da Terra. Talvezbarulho cavernoso, como agora encontrei em pesquisa pela net num depoimento escrito de testemunha do mesmo sismo ou tremor de terra a que me estou a referir. Sei ainda que de imediato se ouviu um estrondo enorme lá por casa quando as escadas de madeira que não eram fixas e que nos permitiam o acesso ao sótão ou "forro" se estatelaram no chão. Depois foram as maçanetas dançando... metal a tocar em metal. Espavorido, o clã Neves encontrou-se num ápice no corredor, pais à procura da cria e esta em busca dos pais... lá fora já se ouvia a voz do vizinho... era noite, ainda bem de noite, mas não sei se estava frio de rachar apesar de ter saído... não me lembro. Soube depois que até foi sismo bem forte, aliás o de maior magnitude ocorrido em Portugal que está registado e que provocou danos consideráveis lá mais para o sul do país, afinal a região mais próxima do epicentro, que foi algures no Atlântico.
Parabéns caro sobrinho, que a tua vida continue em felicidade conjunta com a tua Maria e filho e na volta do correio conta-me coisas tuas e dos teus, ok?
Este Salazar nada tem a ver com o "teu amigo".
O que andas a ler... "obrigas-me" a revisitar o pa...
Adorei a parte final da recomendação, O limão foi ...
MOMENTOS SÃO PAULO
Perdida em casa
A gata do Canindé
A [barata] tonta da Paulista
Tanto Mar
Big desilusão
Estação da Luz
Paz no Mundo
Bar do Quim
LUSA, subida 2011
Papai Noel
Os pecados [confessáveis] de uma menina bem
A Marquesa de Sernancelhe
Dia do Sim
En-laço
MOMENTOS SÃO PAULO