| 14 de Novembro, Sábado 1-0 | | Vi o desafio um pouco aos solavancos (o que ajudou a enervar-me ainda mais) já que como não passou na TV aberta e não possuo a ESPN no pacote da TV Cabo, tive que me contentar com a transmissão via internet no sítio do Esporte Interativo.
Ontem, Domingo, estive um pouco ao paleio com a tertúlia domingueira junto à Banca de Jornais do meu amigo Domingos, um palmeirense que já se convenceu que o Brasileirão vai voar para outras paragens. Inevitavelmente veio à baila o Portugal vs Bósnia. Isso é que foi sorte, patrício, atalhou-me o Mário, três bolas na trave.
Bom, gaguejei eu, como torcedor de futebol admito que sim, que tivemos sorte e o que vi me deixa bastante apreensivo, mas agora como português acho que finalmente os deuses da bola se lembraram de nós.
Vai ser difícil na volta, remata o não sei quantos que me esqueceu o nome. Filho de portugueses gosta de brincar com a nacionalidade dele: não sabe se é português ou brasileiro, porque apesar de ter nascido por cá foi gerado do outro lado do Atlântico [o nascimento deu-se poucos dias após o navio ter atracado à costa brasileira].
Se vai, carago, atalhei eu, tendo depois o trabalho de explicar o que disse.
Boa gente. Gostam de saber coisas da terrinha, nome que considero carinhoso e que se refere ao nosso pequeno rectângulo. Aliás eu próprio gosto de referir assim, antepondo-lhe santa porque tenho a vantagem de a minha terra ser Santa. Aqui no grupo não se conta piada de português. Pelo menos enquanto eu lá estou e verdade seja dita que às vezes até entro na onda principalmente com o Domingos, com quem tenho mais empatia, e lhe digo que português não é burro, não, agora filho de português (nascido cá) é que acho de orelha comprida. Diga-se num aparte que a família do Domingos pela parte paterna é de Cinfães, família Branco. Conheço alguns Brancos já que estive por lá pelo magnífico Douro dois inesquecíveis anos. Já contei também que a minha madrinha de casamento é a irmã do Domingos, mas assinale-se que foi a Inês minha madrinha o primeiro elo da amizade com esta família, educada à portuguesa como eles orgulhosamente fazem notar. O Domingos, homem de 63 anos, foca muito o pai e os ensinamentos, a educação, afinal. Adora Amália (já lhe gravei um CD) e como eu não tanto diz que sou lusitano de segunda apanha.
Contudo os filhos já não são muito apegados ao bacalhau e penso que dou assim a perceber como as raízes terão tendência a diluir-se no tempo. Aliás, acho que em países novos, como o Brasil, formados por descendentes de uma enorme variedade de nacionalidades há necessidade de vincar a própria nacionalidade que se adquire por nascimento para criar o espírito de Povo. Claro que as origens terão obrigatoriamente de fazer parte da História mas não andar a viver sistematicamente agarrado a elas. Veja-se o caso português, por exemplo: sei lá eu, nem me interessa, se descendo exactamente dos lusitanos, dos celtas ou dos iberos ou dos celtaiberos, ou até mesmo dos romanos, e, realce-se, que não me preocupa nada em saber se tenho sangue árabe ou judeu ou mistura dos dois. Só sei que sou português e que na origem do Povo Português esteve o sangue daqueles povos todos que povoaram a Ibéria. Assim será também, penso, daqui a uma centena de anos cá por terras brasilenses.
Sinceramente que nem sei como levei a crónica para este tema, mas talvez tenha sido por influência da Bandeira (enviada pelo meu primo Esmeraldo) que tive a preocupação de colocar na parede da sala momentos antes do início do desafio. É certo que não foi na varanda nem na janela (só quando for o Mundial, espero eu) mas afinal eu coloquei-A para mim, para nós. Pormenor: aquele pequeno quadro que serve de amparo à Bandeira foi feito por mim e nele está escrito o poema O Cravo embelezado por um cravo vermelho que usei num dos 25 de Abril que por cá vou passando. Virá a propósito dizer que tapado pela Bandeira está um poema embelezado com uma Rosa e na parede em frente duas fotos, da nossa Piruças 4patas e, atente-se bem, do inesquecível amigoRaposão em quadros que também fabriquei: sem saudade nem nostalgias, são apenas marcas para que a memória esteja sempre activa.