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Tio Afonso, de Belém do Pará

por neves, aj, em 26.02.10

O careca da esquerda é o meu tio Afonso Neves e o da direita é o meu pai Zé Neves. São irmãos legítimos, isto é, ambos filhos do matrimónio do Manuel e da Aida, meus avós paternos. A foto foi captada  no Largo do Outeirinho e, segundo o meu irmão mais velho, no ano de 1959. Teria eu, então, 4 anos de idade, como dará bem a perceber pela estatura apresentada na citada foto pelo mais pequeno dos personagens, porque de outro não se trata que não eu, embora aqui ainda não revelasse o mais notório dos patrimónios que herdei dos Neves: a careca. Diga-se num à parte que nem eu revelava nem [ainda] o meu irmão Jorge, sentado imediatamente a meu lado, na altura aí com uns 15 anos de idade, mas curiosamente ele é hoje o mais descabelado dos [três] filhos carecas [o mais velho dos filhos conseguiu escapar às tesouradas genéticas].
Pelo que sei, afinal pelo que os serões familiares me iam contando, por essa altura do ano de 59 do ido século XX já o meu tio era residente nesta imensa massa territorial chamada Brasil, só que em cidade lá bem mais para cima, uns milhares de quilómetros mais a norte da São Paulo onde me encontro agora: Belém, capital do Estado do Pará.

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Não sei se nesse ano teria ido passar umas férias à Santa Comba Dão que o tinha visto nascer, o que sei é que depois de partir novamente rumo à região amazónica meu tio só voltou à terra-natal passados 37 anos, tinha eu já ultrapassado a barreira dos 40 anos. Eu lembrava-me bem dele, ele de mim talvez nem tanto. Não posso dizer que eu tivesse ficado contente, confesso, por ele não se recordar de passagens tão marcantes que ainda estavam [e estão] gravadas na minha memória [ele, como benfiquista, contribuiu também para que eu escapasse das garras dos leões]. Passados tantos anos, meu tio teria voltado a casa, mui provavelmente, para fazer as despedidas com os irmãos [na altura ainda vivia minha tia Luzitana], afinal a vida dele estava cimentada aqui no Brasil. E pelo que sei, ainda vive, contará agora talvez com 90 anos de idade. Não posso dizer que é o meu único tio de sangue [minha mãe só teve irmãs, mas também nenhuma delas já está entre nós, viventes] porque existe ainda um outro [meio-irmão de meu pai e de meu tio, claro, fruto da aventura africana de meu avô Manuel por terras de Angola] com o qual, curiosamente, também não tenho contacto. A este, tio Manuel António, vi-o apenas por duas vezes [a segunda no funeral de minha mãe, vão lá 33 anos] e se nos encontrássemos por aí passaríamos um pelo outro, de certeza absoluta, sem nos cumprimentarmos por nos desconhecermos.
Curiosamente, residindo eu no mesmo país nunca tentei contactar com meu tio Afonso ou com a sua família. Provavelmente por culpa daquelas quase quatro décadas de separação, sem contacto, a voz do sangue esfriou, como por aqui se diz, um pouco. Sei que meu irmão, o também residente nas Américas mas lá na de cima, conseguiu chegar à fala, via telefone, com este meu tio brasileiro e até lhe falou de mim e, particularmente, do Voz do Seven. Afinal Seven é Neves [embora redigido à árabe] e eles, a família, também são Neves. Contudo, nunca me apercebi de um alô vindo de terras de Grão-Pará redigido nos comentários às entradas do Voz e tantas têm sido as que se propiciavam: sobre minha mãe, sobre meu pai, sobre meu avô e até sobre a santa terrinha. Acredito, no entanto, que meu tio não navegue pela rede e por isso compreendo, como também entendo, pelo que já bem constatei por aqui, que as raízes beirãs regadas pelo Dão nada dirão a sua esposa nem a meus primos, que, se a memória não me falha, serão um casal de primos [pergunto-me se eles saberão que eu existo].
Talvez um dia destes dê eu um alô lá para cima, já que a educação que recebi me martela os neurónios dizendo que a obrigação deve partir dos mais novos, principalmente dos que na escada hierárquica familiar estão num patamar mais abaixo.

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publicado às 09:33



  
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