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Dilma em Aparecida

por neves, aj, em 12.10.10

... a [nossa] candidata Dilma foi à missa no Santuário de Aparecida e a situação fez-nos recordar acto que nós próprios praticámos há 35 anos por terras de Lafões onde o "morangueiro" é também conhecido como o "vinho das duas mãos" dado o seu poder diurético.
Atente-se que não temos base para afirmar que são actos semelhantes, mas também não temos culpa de a nossa mente nos levar a viajar no tempo e recordar a situação pela qual passámos e que, bem vistas as coisas, tem um ponto em comum com esta que é a de uma ida à missa ter tanta importância e se tornar necessária para não sermos proscritos. Tudo por culpa das religiões meterem o bedelho onde não são chamadas, atente-se. Claro que Dilma Rousseff tem todo o direito [se católica terá também dever, porque, convenhamos, essa coisa de católico não praticante é um incumprimento] e de maneira alguma queremos questionar a sua Fé, mas não se livra a candidata, a nossa, repetimos, de ser acusada de acto político. Foi acto político esta sua ida à missa? Que seja, ora. Pior é o domínio que padres e bispos praticam nas mentes aproveitando a vulnerabilidade de quem é crente para as induzir em políticas contrárias à sua realidade social. Claro que Dilma fez bem, independentemente da crença, repetimos, porque é deveras anedótico uma eleição para Presidente da República de uma nação que se diz laica constitucionalmente ser determinada por leis religiosas em actos que são puramente do domínio dos homens. Quando é que as religiões metem na cabeça que o aborto é uma questão de consciência [quem o fizer que durma com ele] e que ele jamais deve ser tratado como acto pecaminoso e sim como uma questão de saúde pública [que escapa completamente a padres, bispos e até a divindades e só diz respeito a médicos]? Dilma é a favor da descriminalização? Porque não? Claro que todo o homem de bem, que tenha dois dedos de testa, não é a favor do aborto por dá cá aquela palha, é sim a favor de o descriminalizar e de impedir que ele seja feito [porque se faz] em condições precárias, perigosas para a saúde que pode levar à morte da mulher ou a deixar-lhe sequelas gravíssimas, porque não queiram as religiões tapar o sol da verdade com uma peneira de mais de um milhão de abortos clandestinos por ano que o Ministério da Saúde estima praticados nesta imensidão territorial chamada Brasil. Claro que para as senhoras do "Cansei do Lula", para as chamadas senhoras de bem, melhor, de bens e entenda-se como possuidoras de bens materiais, é assunto que lhes passa ao lado, aliás até levantam a bandeira p'la vida e etecetera e tal e até pregam, como ouvimos, que aborto é coisa da plebe, porque, está claro, que se algum dia o pecado lhes entrar portas adentro resolvem a situação em confessionário de clínica privada conceituada e livre de qualquer suspeita ou viajam ao exterior, a Portugal por exemplo.

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Quanto à nossa história, nela não entra o aborto, mas mete ida à missa em acto puramente político... estávamos no "verão quente" de 75, pós-Revolução de Abril, e o MFA [Movimento das Forças Armadas] destacou-nos em alfabetização [após ensaboadela nas Termas de São Pedro do Sul] para pequena povoação, freguesia de Vouzela, Campia de seu nome, situada nas encostas da Serra do Caramulo não muito longe de casa diga-se em abono da verdade [uns 50  Km, talvez] contudo amputada de transportes públicos. Claro que não fomos sozinhos, e sim em grupo. De cinco. Da santa terrinha éramos quatro jovens pré-universitários com uma vontade louca de ensinar a ler quem não o soubesse e de "dar voz" a quem não a tivesse ou que tivesse dificuldade em a fazer chegar a outras instâncias e o quinto elemento era de Nelas, se não nos enganamos, sabemos isso sim, temos a certeza, é que era um leão sem garras, aliás apenas com unhas para tocar viola enquanto os outros faziam os deveres de casa [limpar, fazer almoço e jantar, lavar louça e etc e tal] e tentavam inventar estratégias para dar cumprimento ao que a 5ª Divisão nos tinha incumbido. Contudo, no primeiro contacto que tivemos com a povoação [transportados em automóvel conduzido por mãe de um dos nossos colegas] o desânimo foi total. Ninguém à nossa espera. Estávamos perdidos. No entanto demo-nos ao conhecimento [jamais esquecemos que neste primeiro dia saboreámos uma broa de milho maravilhosa numa adega de tecto baixíssimo] e ficou acordado que ficaríamos dois de nós por lá: este que vos escreve e o amigo ECastrinex, porque tinha amigo resineiro nas redondezas que nos ofereceu mesa e cama por uma noite [com caçadeira à cabeceira, registe-se]. Logo depois tratámos de nos mexer e a segunda noite já foi passada na "nossa futura casa" uma casa devoluta de um militar de patente que o cunhado Firmino,o brasileiro, nos franqueou.  Porque a fama destes jovens alfabetizadores era de comunistas [palavra que na altura significava matar os velhos com uma injecção atrás da orelha] foi-nos recomendado pelos nossos superiores [os militares, embora nós não o fôssemos] que fizéssemos de tudo para, logo de início, cair nas boas graças do Povo. Uma das estratégias passava pela religião, não entrar em choque com o Padre, visitá-lo o mais rápido possível, darmo-nos ao conhecimento, enfim apresentarmo-nos, e logo de seguida mostrar à populaça que estávamos bem com ele, padre, e até com Deus... assim se idealizou e assim se praticou: no Domingo imediato, o par de jarras acima citado, nós, rumou cedo à Igreja e participámos no Santo Sacrifício [oh se foi sacrifício] tomando assento logo na primeira fila de fiéis, mesmo nas barbas do pároco e ao lado das forças vivas da aldeia. Fomos bem aceites, éramos queridos da população e convivíamos com ela, inclusive na "sacha do milho" e merendas, claro. Foram dois meses em que comemos e bebemos sempre muito bem e quanto à alfabetização não se chegou a fazer porque só havia três analfabetos e como era tempo de andar nos campos de cultivo não tinham tempo para nos aturar.

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