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... pedimos desculpas pelo ocorrido, mas realmente o dentista que estaria de plantão faltou sem aviso prévio, o que tornou impossível sua substituição: é com o pedido de desculpas vindo do "pronto-socorro da Lapa" que faço a introdução a esta prosa, muita prosa [demasiada prosa, dirão alguns, mas quem gosta de mim lê-me na mesma, ora] para encorajar todos aqueles que se sentem lesados pelo [mau] funcionamento dos serviços públicos, seja daqui desta banda di cá, dali ou de lá longe da banda di lá. Vale sempre a pena reclamar. Pelo menos para aliviar o peso da frustração sentida mas também para mostrarmos aos descumpridores que na verdade estamos bem vivos e não somos meras estátuas de praça qualquer que aceitam que lhes defequem em cima.
Problemas com os dentes quem os não tem? Uns mais do que outros, claro. Eu devo estar no grupo dos "mais" e como é sabido que tratar dos dentes não é barato [não querendo com isto dizer que o dentista cobre caro] ando a servir de cobaia aos alunos da Faculdade de Odontologia da USP [Universidade de São Paulo]. Não se pense que a dita Faculdade anda à cata de pacientes, não, estes fazem fila e eu posso considerar-me um privilegiado por ter sido encaixado. Atente-se que escrevi alunos no masculino, mas seguramente uns "três quartos" dos futuros médicos dentistas serão mulheres. Meninas ainda, jovens, muito simpáticas e elegantes nas suas alvas vestes, algumas mui belas [o que até ajuda a atenuar a dor e o sacrifício da ida ao dentista, diga-se em abono da verdade] e extremamente cuidadosas. Claro que também amam um bom papo. Recordo particularmente uma argentina muito conversadora e de muito boas mãos, não tão boas quanto os pés de Maradona, é certo, mas extremamente delicadas, e uma brasileirinha casada com um português de Lisboa que, a partir da urgência, fez a especial fineza de me "encaminhar" para "fazer o canal". Ao dente, claro. A partir daqui fiquei "cliente", quer dizer cobaia deles e delas. Ganhamos todos: eu, em tratamento dentário grátis e elas e eles, em experiência clínica, e claro que também a Escola, porque necessita de "matéria viva" para poder pôr em prática a teoria ministrada. Desnecessário será dizer que todos os tratamentos são supervisionados pelos assistentes do professor da disciplina e pelo próprio professor que de vez em quando "dão uma ajudinha". Felizmente, diga-se. Importante ainda de referir que os tratamentos funcionam de 2ª a 5ª feira em três turnos, manhã, tarde e noite. Já fui paciente em qualquer um deles, a escolha é feita aleatoriamente dependendo do "doutor" que sai em sorte e do turno que ele escolheu. Por si, as urgências vão funcionando durante o dia, mas não durante o fim-de-semana. Não me pergunteis se existe lei que o dite, mas tal como computador que resolve quebrar durante o fim-de-semana também dente cariado que se preze adora rebentar com os nervos a um homem precisamente quando menos ele espera, a um Sábado, Domingo ou Feriado. Logo quando a emergência da USP está de portas encerradas. A "coisa" piora se estamos em vésperas de feriadão ["fazer ponte" não é exclusividade lusitana] como aconteceu em Novembro com o feriado do dia 15, uma Terça-feira, dia de comemorar a Implantação da República no Brasil que aconteceu no ano de 1889 [em Portugal, para o ano vai desaparecer o feriado da Implantação da República, 5 de Outubro, não querendo com isto dizer que os portugueses vão ser obrigados a aturar um rei... são apenas mesquinhices de uma luta anti-crise que só deve dar para poupar uns tostões enquanto presidentes e vices de toda a espécie, ministros e secretários, deputados e vereadores e ainda boys e girls e lambe-botas [puxa-sacos] de toda a espécie, continuarão a consumir euros ao desbarato].
Cheguei ao cerne da questão.
No Sábado dia 12 um dente que espera pela vaga na USP para lhe ser "feito o canal" resolveu agasalhar-se com um abscesso. Ao outro dia as dores eram tão tamanhas que me levaram, desorientado de todo, a procurar ajuda no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Eu até sabia que não tinha urgência dentária mas esperava que me ajudassem a encontrar uma solução que, num ápice, se passou a chamar "pronto-socorro da Lapa", uma urgência 24 horas, curiosamente mesmo defronte ao Cemitério da Lapa e que eu até conhecia porque era bem ao lado do PS [Posto de Saúde] da Lapa, entendendo-se comoLapa uma região da zona oeste da cidade de São Paulo. A dor até parece que se tinha evaporado e mais homem de sorte me achei quando mandei parar um ônibus [autocarro] que para meu espanto iria passar mesmo em frente ao dito cujo pronto-socorro. Nem 10 horas da manhã seriam. Após breve triagem com uma enfermeira, tratou-se do preenchimento de ficha e agora era só esperar. Achei estranho que não estivesse ninguém à porta do consultório e que este estivesse às escuras [como que estivesse de fim-de-semana] e passado alguns minutos fui papear com o funcionário que me atendeu e a conversa alargou-se a um outro, então calado que nem um sacho, que do alto do pedestal bradou que o Dr. Ricardo não sei quantos lhe tinha dito [pessoalmente e não ao serviço] que não vinha trabalhar e que eu teria de esperar até ao outro turno quando entraria novo médico.Rica urgência esta aqui no pronto-socorro da Lapa, teria dito eu. E mais umas palavrinhas, ora, garantidamente em bons modos, em tom de voz calmo e baixo embora suficiente alto para ser ouvido por outras gentes que não aqueles com quem falava. Pra sorte minha e também deste escrito aparece em cena mesmo a meu lado uma senhora, uma que ouviu a conversa, que me pediu para a seguir. Era a assistente social de serviço, ofereceu-me uma cadeira para me sentar confortavelmente e começámos a bater um harmonioso papo. Lamentou a situação e disse-me o que o funcionário me tinha dito: para voltar mais logo, pelas 19 horas da noite quando entraria a doutora não sei quantos. Pra telefonar pra ela para me garantir a presença da doutora. Mais, colocou-me à frente uma papeleta para eu reclamar se entendesse necessário. Desconfiei de imediato que não seria a primeira vez que o baldas do doutor mandava a escala de serviço às malvas e disse cá pra mim, não é tarde nem é cedo. Reclamei, mas curiosamente risquei a palavra reclamação no formulário e escrevi "desabafo". Identifiquei-me, inclusive com número do SUS [Sistema Único de Saúde] e do RNE [Registo Nacional de Estrangeiro], e reclamei. Romanceei a dor de tal modo que quem leu ficou seguramente convencido que dores de parto são brincadeirinha comparadas com as minhas. No passado dia 6 de Dezembro recebi formalmente, via e-mail, a comunicação de que a minha voz tinha chegado à "Diretoria Técnica". Fiquei feliz, feliz por constatar que o "sistema" afinal funciona e de maneira alguma feliz por me sentir vingado ante o profissional em causa [não muito profissional, note-se]. Nada me moveu contra o cidadão Ricardo não sei quantos e sim contra o médico faltoso. Revoltou-me a arrogância do próprio [nem sequer comunicou ao serviço] e o desrespeito não propriamente para comigo mas para com um Povo sofrido e batalhador que paga os seus impostos. No caso, e em agravamento, população em sofrimento, população da qual eu agora faço parte [sou um dos 190 732 694 habitantes do Brasil segundo o Censo de 2010] apesar da minha condição de estrangeiro. Passariam uns 15 minutos das oito da noite e estava perante uma mulherona-dentista tão alta quanto eu, de mãos grandes, mas extremamente delicadas de experiência que lamentou não poder fazer nada no dente em si. António você alguma vez teve problemas combenzetacil ou qualquer penicilina?Não doutora, acho que nunca tomei disso, respondi... siga a linha verde até ao posto de enfermagem, as dores vão desaparecer num instantinho e chegado a casa, vai bochechar com água morna salgada. Bochechar, bochechar, bochechar, António, entendeu? Se entendi. E enquanto não "fizer o canal" a tendência é acontecer o mesmo. Percebo, obrigado doutora, ia já eu em andamento pela via verde sportinguista. Não cronometrei, mas acho que não decorreram três minutos após a agulha da injecção [da tal benzetacil mais dipirona e não sei que mais que me esqueceu] me ter perfurado a nádega esquerda para eu me sentir outro. Mais leve e sem dor. Quanto ao bochecho com água morna salgada digo-vos uma coisa: resulta, se resulta!
Este Salazar nada tem a ver com o "teu amigo".
O que andas a ler... "obrigas-me" a revisitar o pa...
Adorei a parte final da recomendação, O limão foi ...
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