Parlamento
[mui provavelmente o único Parlamento do mundo que do outro lado da rua tem uma esplanada]
... no início era a Taberna do Aníbal ou simplesmente O Aníbal, porque Aníbal a fundou. Fazia paredes meias ligada por uma estreita porta com pequena mercearia [loja de secos e molhados em perspectiva brasileira] onde a população se podia abastecer das necessidades do dia-a-dia, cento e vinte e cinco gramas de café de mistura, um quarto-de-quilo de açúcar, dez tostões de colorau. Eram tempos em que não havia o vício [nem a obrigatoriedade] de comprar por atacado. A Tasca passou a ser conhecida por Manel do Aníbal quando o patriarca se finou e o filho Manuel, actual proprietário, tomou a seu cargo o leme de um dos mais emblemáticos espaços de comes e bebes da ditosa Mãe-terra de Santa Comba Dão. Com a Alvorada de Abril foi baptizada [também] de Parlamento. Dos padrinhos que lhe deram este último nome não reza a História e as razões de tão elevado epíteto são uma incógnita, já que é sabido que os frequentadores não são eleitos [a entrada é livre, embora a presença de representantes do sexo feminino seja praticamente nula] e não consta que se discuta política de interesse para o país ou região [tomara]. Com toda a certeza que ganhou a denominação porque por lá fala-se mais do "disse que disse", critica-se por dá cá aquela palha sem se apresentarem soluções práticas. À semelhança de salão de barbeiro e de cabeleireiro de senhoras que se preze, é local onde se toma conhecimento das novidades do pequeno burgo. Vem a propósito lembrar que o espaço até ganhou o estatuto de local de estilo [lugar público de informação à população] onde costumam ser afixados os óbitos ocorridos na freguesia. Como não podia deixar de ser, neste Parlamento o futebol é tema forte de conversa e discussão e vem a propósito recordar que nos tempos áureos dos relatos via rádio a Tasca do Aníbal era ponto de reunião dos adeptos das várias cores clubísticas. Ainda o é, só que agora é a televisão a roubar a cena.














