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... estou cansado, farto e saturado.Com dores, sem discernimento nem paciência, sequer, para fazer uma sopita para combater o frio que hoje se faz sentir em São Paulo, após uma semana de calor.
A minha couraça já não aguenta esta oscilação térmica.
Velhice pura.
Depois elas acontecem, depois de um calorzão sente-se frio, e, depois, busca-se calor nas bolsinhas de água quente para dormir que nem lorde e, "ó despois", vindo do nada, aparece uma pequena borrega.
Borrega.
Eu sou da família dos "borregos", da parte da minha avó paterna, Aida de Morais, filha de um Coimbra que também era Carneiro (filho de carneiro borrega é), de alcunha, mas a borrega que gerei é aquela empola erupção na pele, entre a derme e a epiderme, em que há acumulação de serosidade, também conhecida como bolha.
Pois a minha bolha nasceu borrega (na quarta-feita, dia 30 de Agosto), mas depressa se tornou bezerra.
Numa urgência tentaram liquidar esta minha bezerra, com uma choupa fina chamada agulha, mas ela não se deixou finar às primeiras.
Borbulhou, mas não se finou e empolou, novamente, embora de forma mais suave. Ficou avermelhada, no seu seio, de um vermelho-escuro que o povo diz que é cor de "sangue-pisado".
Na verdade tem sido martirizada, pisada, porque eu preciso de andar.
Senti-me obrigado a regressar ao "hospital", como já contei.
Agora, moribunda, sem hipóteses de voltar a ser bolha, é como que um mapa em relevo de uma ilha vulcânica num mar de sofrimento chamado calcanhar.
Quer eternizar.
Resiste.
Apetece-me roer-lhe as entranhas.
Hoje voltei à UBS Alto de Pinheiros para "fazer o curativo".
O enfermeiro gostou, diz que estava melhor (resta saber se estava melhor para mim ou para a bolha, é que parece que me estou a apaixonar por ela, apesar das dores, mas todo o amor dá dor dizem os entendidos... eu não o afirmo porque sou cepo na matéria).
Achei na mesma, ponto final, parágrafo, travessão.
"Vamos continuar com a lesão fechada", disse o enfermeiro.
(entenda-se fechada como tapadinha, esterilizada, com um "stop" às bactérias, só com um pequeno auxílio à espera que a Natureza faça o que deve e daqui a uns dias cortar aquelas peles velhas que vestiam a borrega).
Enquanto uma colega tratava de mim, o enfermeiro foi-me avisando para eu tomar atenção ao que a dita colega fazia, para na próxima sexta-feira fazer igual: é que como amanhã é feriado nacional (Independência do Brasil), o posto vai "fazer ponte" e, sendo assim, só reabre na segunda-feira.
Deram-me gaze e ataduras (pra um português é ligaduras), uma pomada, afinal hidrogel, e uma "malhinha", uma espécie de camisinha para aconchegar tudo.
Vamos lá ver se, na sexta ou sábado, ou vou conseguir algo parecido como o que me fizeram hoje e que está à vista aí na foto.