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Melancolia (ainda)

por neves, aj, em 19.10.04

Melancolia (ainda)
... recuando, de novo, alegremente triste na memória davida.
(a Delfim Pais de Matos, in memorium)

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Tenha-se por base introdutória que apesar de ultimamente andar arredado das lides jornalísticas (digamos assim) no semanário do Defesa da Beira, jamais se poderá desvanecer o meu interesse pelo que se passa na terra que me viu nascer... tanto mais que até já escrevi no meu Voz do Seven "... que quando se sai do torrão já com quase meio século de vida as raízes não podem secar mais".
Assim, é com enorme expectativa que espero pela chegada do Defesa. Ontem,Sexta-feira, chegou. Não sei propriamente a hora nem sei se o carteiro tocou duas vezes e isso até foge ao que me proponho. Sei que almoçávamos e após a panorâmica à primeira das páginas os meus dedos caminharam  para as últimas,para o cantinho da nossa Cidade. De imediato a visão da foto de um amigo entre tarjas negras abalou-me. Nem li a notícia, já sabia... tanto mais que alguém já me avisara que o seu estado de saúde inspirava sérios cuidados.
Delfim Pais de Matos, o popular Delfim Pina, é o amigo de que falo. Amigo que sempre considerei e respeitei e, em consciência plena, afirmo também que a amizade que ele me oferecia era sã, raiando até, por vezes, a forma paternal... porque, afinal não fui eu e outros tais, quase como seus filhos nas primeiras andanças pela causa da Camisola Preta que nos unia?
...
Hoje o dia nasceu quente... esquentou bem, como dizem as gentes por aqui. Após três dias parecidos com o nosso Inverno este Sábado primaveril promete, mas nem o Sol radioso me desperta deste estado hiberno-mental que me aflige, só sei que tenho, que devo escrever e não encontro o fio à meada.
Parto em busca das recordações, daquelas que ontem relatei cá em casa. A memória contou-me que o primeiro contacto de convivência directa com o Delfim Pina foi talvez naquela célebre (re)marcação do pelado do velho Estêvão de Faria que até já vos relatei em outro texto. Nesse encontro aprendi pela voz do recém-chegado emigrante na Alemanha, que Pitágoras (o Teorema) afinal tinha aplicação prática e nem era necessário saber enunciá-lo. Mas a memória foi mais longe, muito mais, que nem eu próprio sei definir a idade que tinha. Dez anos? Menos? Talvez e por isso temo que a memória me possa trair. Mesmo assim relato que estava a presenciar desafio dos Pinguins no Pereiro, sentado nas bancadas do lado dos balneários antigos que na altura eram os que existiam. Vestido de amarelo (a cor que deveria sempre acompanhar o negro das outras camisolas) Delfim Pina defendia as redes santacombadenses e lembro-me dele no chão a contorcer-se de dores... afinal era apenas motivo para que o também guarda-redes Luís (o comboio Rápido não o tinha sido e ele tinha chegado atrasado) entrasse para o seu lugar visto que na altura a única substituição possível era a do goleiro, se lesionado...
Delfim Pais de Matos, como eu gostava de lhe chamar, entregou grande parte da sua vida aos Pinguins do Dão. Não sei quantos anos. Muitos foram. Foi atleta. Foi dirigente. Vogal... Presidente. É neste período em que assume a liderança do clube que o meu contacto com ele foi mais intenso e a amizade inevitavelmente nasceu... tanto mais que, como ele muito gostava de frisar, nós éramos parentes... primos em terceiro grau, penso. Recordo e sou obrigado a transcrever as dificuldades vividas naqueles conturbados tempos de falta de apoios e pergunto-me como Delfim Pina e seus pares conseguiam levar a barca a bom porto. Eram as bolas que escasseavam nos treinos, faltavam chuteiras, toalhas... então no dia de jogo... bem, o Domingo era dia de enorme preocupação... os equipamentos estariam preparados? Quantos jogadores havia para o jogo? Fulano já teria vindo? E beltrano... seria preciso ir buscá-lo a casa? E o autocarro para transportar os Pinguins já teria chegado? Conseguir-se-ia chegar a horas?...
Em dia de jogo, os afazeres, os nervos, a ansiedade nem lhe permitiam sentar-se comodamente à mesa para almoçar e ganhou celebridade entre nós, travessos atletas adolescentes, a habitual sandes (sanduíche) que sempre levava e que só era devorada após a equipa estar prontinha a entrar em campo.
Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketInúmeras histórias haveria a contar, mas o tempo e o espaço começam a escassear e se esta desculpa esfarrapada não serve direi então que a memória está em greve.
Faço o remate final relatando o que vejo
nesta fotoe que foi tirada em Lamego no início do decénio de 80 quando a comitiva do Desportivo Santacombadense tinha por destino Resende. Deste jogo no Douro já eu falei na minha crónica anteriorquando pretendi fazer singela homenagem a Teixeira Dinis, outro grande santacombadense que viveu intensamente a Camisola Preta. Nesta foto revejo com uma pontinha de nostalgia o Jó Ramim, entre a minha pessoa e o velhinho Serafim Brinca, e em pé, atrás, lá está o seu primo Rui Brinca intrometido na ala directiva formada pelo António José Bilro, o Alfredo, o (também) grande Zé Dias e o bem-disposto Delfim Pais de Matos...
Que descanse em paz, Presidente!

São Paulo, 09/10/2004

 

MELANCOLIA                MELANCOLIA (MAIS AINDA)









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